"Hoje entendo bem meu pai. Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livro ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece, para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como imaginamos e não simplesmente como ele é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” Amyr Klink - Mar Sem Fim

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Resenha Histórica


        A Via de La Plata é o caminho Jacobeu de maior extensão. Passa pelas Províncias de Sevilha, Extremadura, Salamanca, Zamora, Ourense, Pontevedra e A Coruña, atravessando espaços naturais de grande beleza, com um rico patrimônio cultural e ecológico.
     Na verdade, tudo começou com os “Tartessos”, uma das primeiras civilizações urbanas do ocidente a usar várias rotas comerciais na Península Ibérica. No ano 218 a.c a Espanha foi conquistada pelos romanos que utilizaram esses roteiros, em particular, a via romana “La Iter ab Emérita Asturicam”, (séc I a. C), antecedente da Via de la Plata, para o deslocamento de tropas e comércio. Octávio Augusto, nomeado Imperador em 25 a. C, mandou construir uma calçada que unisse Mérida (Emérita Augusta, capital da Província de Lusitânia) com o norte da Península, atravessando o leito dos rios Tejo e Douro, a fim de facilitar o transporte dos exércitos cuja missão era combater os bárbaros. Esta Via chegou até Astorga (Asturica Augusta) e tinha mais de 500 quilômetros de extensão, sendo que, posteriormente, outros Imperadores, como Tibério e Trajano a ampliaram, em ambos os sentidos, até Sevilha e Gijón. Com a queda do Império Romano, esses roteiros deixaram de ser utilizados, no entanto, a invasão árabe do século VIII atingiu, inclusive, o noroeste da Península, culminando sua conquista com a queda de Santiago de Compostela, no ano 997. Os árabes batizaram-na de Bal’latta (Blata), que significa “Caminho de Pedra”.
        A estrada romana é uma construção militar, construída entre os séculos II e I antes de Cristo, e se prolonga a cerca de uns 463 quilômetros, onde se conservam trechos empedrados do pavimento original com muitos de marcos de pedras. Os marcos são colunas de concreto de dois metros de altura, aproximadamente, onde figuram inscrições que referem ao imperador e a quilometragem das distâncias que separam o percurso. Restos de fortalezas, pontes e cidades de origem romano marca a antiga estrada Romana de la Plata. Na passagem por Salamanca, entre Puerto de Béjar e Pedrosillo de los Aires, se concentra o maior número de marcos localizados em seu lugar de origem. Pedras que sobrevivem até os dias de hoje, excelência por sua quantidade entre toda a rede viária do Império Romano. 
        A Vía de la Plata foi, também uma das vías de peregrinação mais importante da Península, até a tumba do Apóstolo Santiago. Foi a partir do século X, quando a Vía la Plata começou a receber os primeiros peregrinos do sul que se dirigiam a Santiago de Compostela.

O caminho de Finisterra




        Única rota Jacobeia com origem em Santiago de Compostela, tem a sua meta no Cabo Finisterra, mais precisamente, no Santuário da Virxe da Barca.
Tradicionalmente, as peregrinações Jacobeias terminam na cidade de Santiago de Compostela. No entanto, desde sempre que muitos peregrinos, tanto da Península Ibérica como do resto da Europa, decidem continuar a sua viagem até à zona mais ocidental da Galiza junto às águas bravas do Oceano Atlântico.
         O Cabo Finisterra, situado a cerca de 100 km a Oeste de Santiago de Compostela, é considerado por muitos o verdadeiro fim do Caminho de Santiago, existindo muitos peregrinos que, após visitarem Santiago e a sua catedral, continuam a peregrinação até ao extremo do Cabo.

        A Costa da Morte era para os antigos, e assim se manteve até ao final da Idade Média, o último reduto da terra conhecida, a ponta ocidental da Europa continental, o troço final de um itinerário marcado no céu pela Via Láctea, um espaço mítico-simbólico que tinha como extremo a ponta do Cabo Finisterra.
        Por esses motivos, era um lugar carregado de crenças e rituais pagãos que, com os tempos, se foi cristianizando, situação já patente em meados do primeiro milénio.
A partir do século XII, o Códice Calixtino (conhecido em latim comoLiber Sancti Jacobi ou Codex Calixtinus, um conjunto de textos com origem entre 1150 e 1160, do final do pontificado de Gelmires e apresentado como sendo da autoria do Papa Calisto II, considerado uma fonte fundamental da história da peregrinação ao túmulo do apóstolo) assinalava que os discípulos de Santiago tinham viajado a Dugium (actual Finisterra) à procura da autorização dos romanos para enterrarem o apóstolo onde hoje é Santiago de Compostela. Os discípulos foram mandados prender mas quando fugiam dos romanos e prestes a serem alcançados a ponte que acabavam de atravessar caiu quando a tropa romana a passava.
       Mais recentemente, a tradição Jacobeia prende-se com duas devoções populares da Galiza: a do Santo Cristo de Finisterra que, de acordo com Molina (século XVI) "acode os mais romeiros que venhem ao Apóstolo", e a da Virxe da Barca de Muxía que, segundo a tradição, acudiu a este formoso lugar numa barca de pedra para animar Santiago na sua pregação.



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